A maioria dos que por aqui passam, sabem que há cerca de três meses tive um acidente de viação, com tudo a que um acidente de viação tem direito. Bombeiros, ambulância, imobilização, máscara de oxigénio, cobertor de alumínio, sirene a entoar aquele barulho agudo insuportável, entrada de rompante no serviço de urgência... E umas horas valentes a deambular pelos corredores, gabinetes e salas do hospital.
A maioria dos que por aqui passam, também sabem que duas semanas após o acidente, fui submetida a uma cirurgia e que os últimos tempos têm sido passados com visitas periódicas a ambientes hospitalares, naquela que está a ser uma recuperação demasiado lenta para o ritmo a que estou habituada a viver, mas pelos vistos normal perante a “brincadeira” que fui arranjar.
Numa situação normal faria quinhentas coisas ao mesmo tempo. Correria entre Guimarães e Porto, mergulhava em projecto e dava aulas de ballet, fazia uns rabiscos para participar em concursos e fotografava qualquer coisa que me chamasse a atenção... Ia para a cozinha e inventava uma sobremesa, corria pela praia com a Margarida, marcava um voo qualquer da Ryanair e ia passear, fazia exercício físico e... Espreguiçava-me! As saudades que eu tenho de me espreguiçar sem medo que venha a sobrar alguma das peças da minha coluna e do meu pescoço...
Mas pronto, agora tenho de encontrar outras situações normais... E como estar de papo para o ar, de olhos fixos no tecto durante dias tinha de ser complementado, o meu Tico e o meu Teco decidiram começar a tecer considerações sobre... O tecto! Ou melhor, sobre os tectos que vi pelos hospitais por onde passei e que me fizeram companhia durante as longas horas em que estive deitada numa maca ou numa cama.
Quando for grande quero ser arquitecta. E quando for uma grande arquitecta quero ser capaz de projectar um hospital! Um hospital com tectos sem manchas de humidades e de vapores. Um hospital com tectos sem serem revestidos de materiais foleiros e feios. Um hospital com tectos revestidos de texturas e cores que estimulem o positivismo de um paciente que esteja em pânico porque não sente os pés e porque as mãos estão a formigar. Um hospital com tectos pontuados de imagens serenas que ajudem as frases “tem calma, vai correr tudo bem... É só susto...” a fazerem algum sentido e a perecerem um bocadinho reais... Um hospital com tectos que não tenham sido condicionados por limites de orçamento e onde eu possa espalhar obras dos meus artistas plásticos favoritos... Um dia vou poder fazer os tectos que me apetecerem porque toda a gente merece coisas boas em situações muito más...
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